Gabriel Sousa, conquistou terceiro lugar no concurso Literário António Celestino, na classe "2º Ciclo", com uma história real onde desabafa o lhe que vai na alma, abordando um tema pertinente onde tantas outras crianças se podem rever no trabalho que apresentou.
O Gabriel é um miúdo com onze anos a frequentar o 6º ano da escola EB 2,3 de Porto d'Ave. É também atleta do G. D. Porto d'Ave, alinhando na equipa de Infantis, onde trata a bola por tu, mas o seu talento não se esgota com as chuteiras no pés, e desta vez foi com a caneta que resolveu brilhar, apresentando uma história relatada na primeira pessoa, onde deixa o leitor dividido entre o fascínio e a ternura com que este pequeno/grande autor nos contagia.
Ser filho de emigrante
Por culpa da crise meu pai teve de emigrar. No início, não senti muito. Era diferente! Mas com o passar do tempo as coisas foram ficando mais difíceis. Comecei a sentir a falta dos seus abraços, das suas brincadeiras, das suas recomendações…
O futebol na televisão parece não dar a mesma adrenalina, as corridas de motas parecem menos disputadas…
Podemos falar pelo Skype, é certo, mas não é a mesma coisa! É tão diferente que às vezes nem sei o que lhe dizer.
Eu sei que ele foi para poder dar-nos uma vida mais estável. Entendo que tem de ser. Mas que é duro, lá isso é.
A minha mãe coitada, anda sempre a correr. Leva-nos à escola, vai nos buscar, leva-nos aos treinos de futebol e aos fins-de-semana aos jogos… Ela não se queixa mas eu sei que também não deve ser fácil para ela fazer tudo sozinha. Se tivessem cá os dois, sempre poderiam dividir tarefas, seria mais fácil.
Sei que nesta altura, aqui em Portugal, há muito desemprego e por isso é necessário os adultos procurarem trabalho noutros países para sustentar e dar uma vida melhor à sua família. Mas acho que os nossos políticos deveriam tentar evitar que as pessoas emigrassem para não separar as famílias, principalmente os pais dos filhos porque isso custa muito. Não sei se os presidentes se apercebem destas coisas…
Quando chegam as férias, parece que tudo volta ao que era antes. Tenho o meu pai, a minha mãe e o meu irmão. Divertimo-nos muito mas são só três semanas e tudo recomeça.
Para o meu pai também não deve ser nada fácil estar longe de nós, eu sei… Trabalha muito mesmo quando está muito frio, depois chega a casa, que é só um quarto, e não tem ninguém para falar, para brincar ou até para lhe chatear a cabeça. Sempre que nos liga, quer pelo telefone, quer pela internet, faz de conta que está tudo bem mas lá no fundo, no fundo, eu sei que não está e só não nos diz para não ficarmos tristes. Mas ficamos á mesma…
Espero que esta situação seja passageira e que em breve volte a ter a vida de antes. A vida em que todos os dias tinha o meu pai perto de mim para me beijar, abraçar, acarinhar e até ralhar… Mas pelo menos estava cá.
É difícil ser emigrante, mas não é nada fácil ser filho de emigrante."
(Gabriel Sousa)
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