domingo, 9 de setembro de 2012


Seiscentos Mil Euros = nada?!!!!


Já lá vão largas semanas, folheava eu uma daquelas revistas que acompanham os jornais ao Domingo (e refiro-me a uma das que traz artigos para ler e não apenas imagens para regalar a vista!!!), e dei comigo a concordar com o cronista António Manuel Pina, que dizia que nós somos os livros que lemos mas também os que não lemos, no sentido de que se os tivéssemos lido, algo em nós teria mudado. Da mesma forma, somos também as viagens que fizemos e as que ficaram por fazer, os filmes que vimos e os que não vimos e por aí adiante.
Seguindo o mesmo raciocínio, o resultado do nosso trabalho depende do que fazemos e também do que deixamos por fazer. E é aí que quero chegar. Nas campanhas eleitorais, somos constantemente invadidos por mensagens começadas por: “eu vou fazer”, e depois, vamos avaliar o trabalho dos eleitos pelo que fizeram e, neste caso, sobretudo pelo que não fizeram. E como em tudo, é necessário tentar perceber porque raio ficaram por realizar obras que estavam planeadas e prometidas.
Aí, vou recuar à década de noventa e início do presente milénio, que recordo, era o tempo chamado das 'vacas gordas' em que de Bruxelas vinham camiões de fundos comunitários para serem distribuídos por quem tivesse mais engenho e arte para os angariar, o que não originou apenas muitas obras públicas e municipais estendidas por Portugal inteiro como fez também catapultar a construção civil, aumentando também aí de forma muito significativa as receitas das autarquias através dos impostos sobre as habitações.
Resultado desse tempo, em que a autarquia do nosso concelho era governada pelo dr. Tinoco de Faria, herdamos obras emblemáticas como aquela na serra do Carvalho, em que ninguém fica indiferente quando passa naquela zona, e nem é necessário abrir os vidros da viatura para sentir o aroma da 'Menina dos Olhos' do então presidente que a idealizou e concretizou.
Mas esse período não fica apenas marcado pela nauseabunda, perdão, aromática obra, (longe de mim querer ferir a sensibilidade de quem por ela se apaixonou) que recordo, está situada em cima das nascentes das águas que abasteciam grande parte da população do nosso conselho, inclusive a vila, e que agora nem para rega é aconselhável. Importa lembrar também a obra que não foi feita, que tal como o livro que não foi lido também a não execução da obra que devia ter sido feita,  tornou a nossa vida diferente do que seria se tivéssemos actuado doutra forma. 
E para percebermos o que devia ter sido feito e não foi, torna-se necessário fazer comparações com outros concelhos, onde alguns pontos nos saltam à vista como a rede viária e parques industriais, factores determinantes para a captação de empresas e os consequentes postos de trabalho, que originaria um acréscimo da população, logo havia mais comércio, mais riqueza e por aí adiante. E como a Póvoa não soube aproveitar as oportunidades e quando devia não deu um único passo nesse sentido, as empresas instalaram-se onde as condições eram favoráveis, e agora, com o sector industrial a atravessar um período de estagnação, as que já existem não vão mudar de local simplesmente por mudar, e novas não as há, como se sabe. Portanto, também aqui, além do que foi feito é bem visível reparar no que não foi feito no período em que não seria necessário grande engenho para dar os passos necessários, pois não é segredo para ninguém que o dinheiro dos fundos comunitários abundava e às vezes até sobrava, e era devolvido à origem devido à falta de projectos apresentados. Infelizmente, o nosso concelho foi um dos poucos que não aproveitou essas oportunidades, fruto do cruzar de braços de quem ocupava o lugar onde se exigia o dinamismo e competência que não se notou.
Mas como se não bastasse a obra que foi mal feita e a que devia ter sido feita e não foi, esse período fica ainda marcado pela obra que deixou para outros 'não' fazer, como todos devem ter conhecimento, nesta recente situação noticiada em vários órgãos de comunicação, em que um acto dessa má gestão há uma dúzia de anos, custa hoje mais de Seiscentos Mil Euros que terão que ser pagos a quem de direito, por culpa duma atitude que não foi apenas irresponsável mas também de mau gosto para a vila.
E quando um pedido de desculpas dirigido à população lesada, que somos todos nós, seria o mínimo que (ir)responsável por esse acto teria que fazer, fomos surprendidos, ou nem tanto, com afirmações desse mesmo autor que vem ainda dizer num jornal local, (supostamente a rir-se de todos nós mas isso não se vê no comunicado) que Seiscentos Mil Euros não são desculpa para fazer menos obra. Não deixa de ser estranho, vindo de quem sem a falta de verbas como esta, conseguiu 'não' fazer muita obra!!!
Não sei em que mundo vive o culpado de toda esta situação, mas no meu mundo, Seiscentos Mil Euros daria para fazer muita obra. Olhe, daria por exemplo para fazer dois sintéticos iguais ao que nessa época foi prometido por três vezes ao Grupo Desportivo Porto d'Ave, e chegou-se mesmo durante uma campanha eleitoral a 'fingir' o seu início, da mesma forma que a falta deles, dá para 'não' fazer muita obra, que espero que não seja esta, pois trata-se duma prioridade, uma vez que é imprescindível para que mais de uma centena de jovens do nosso concelho tenham condições para praticar desporto, e por outro lado possam espreitar oportunidades de progredir no mundo do futebol, como já aconteceu com mais de uma dezena de jogadores que iniciaram a formação no Porto d'Ave e vestem agora camisolas com emblemas de relevo nacional e até internacional. Além disso, deste investimento depende também a continuidade da equipa principal do Grupo Desportivo de Porto d'Ave no escalão mais alto da Associação de Futebol de Braga.
É pena que não seja apenas na Serra do Carvalho que nauseabundam recordações dum período em que a Póvoa não cresceu por culpa da inoperância e mesmo desinteresse de quem a geria. É que além do 'aroma' que nos deixou, o ex-presidente Tinoco de Faria deverá ser também recordado por tudo que devia ter feito e não fez, e também por aquilo que deixou para outros não fazer, por terem que pagar os erros da sua falta de aptidão para o exercício das funções que lhe foram confiadas.

ass. (eu)