quinta-feira, 26 de maio de 2011

In Memoriam António de Moura Vieira


António Moura Vieira, ou ‘Toninho’, como era tratado pelos amigos de sempre, era um Homem duma simplicidade pouco vulgar, quando falamos de alguém para quem o planeta era uma aldeia, com registos do seu empreendedorismo notados em vários continentes. Uma viagem à China ou aos Estados Unidos era abordada por ele, como ir a Coimbra ou Lisboa. No entanto, ir escolher o peixe para o almoço, como o acompanhei algumas vezes no mercado de Caminha, ou juntar a família e alguns amigos para engarrafar o vinho da sua quinta, eram tarefas, entre outras, das quais não abdicava. Gostava de ter a família e os amigos junto de si nas mais pequenas coisas (para ele eram grandes) e recebê-los na sua ‘mesa grande’, onde o presunto e o queijo tinham lugar cativo. As cadeiras eram preenchidas por ordem de chegada; junto a si, tanto ficava o trabalhador que tinha acabado de fazer a poda na vinha, como aquele que ocupava o mais alto lugar na sociedade. Nem se agigantava perante uns, nem se encolhia perante outros. Media as pessoas pela essência e sabia com exactidão o significado da palavra “Amigo”, que cultivava como ninguém. Tinha um sentido de humor muito próprio e gostava de pregar algumas partidas, deixando-nos embaraçados durante alguns segundos. Era uma pessoa alegre e bonita. Adorava crianças, tinha mãos e braços enormes para dar e para abraçar. Tinha cabelo da cor de prata, mas o coração era d’ouro. Teimava em não ser notado, mas brilhava... como brilhava!!! Este Homem, era o meu Padrinho.

Um Grande Homem

"Quem faz jus ao título de "grande homem"?
Não sei...
O homem inteligente?
Não basta ter inteligência para ser grande...
O homem poderoso?
Há poderosos mesquinhos...
O homem religioso?
Não basta qualquer forma de religião...Podem todos esses homens possuir muita inteligência, muito poder, e muita religiosidade - e nem por isso são grandes homens.
Pode ser que lhes falte certo vigor e largueza, certa profundidade e plenitude, indispensáveis à verdadeira grandeza.
Podem os inteligentes, os poderosos, os virtuosos não ter a verdadeira liberdade de espírito...
Pode ser que as suas boas qualidades não tenham essa vasta e leve espontaneidade que caracteriza todas as coisas grandes.
Pode ser que a sua perfeição venha mesclada de um quê de acanhado e tímido, com algo de teatral e violento.
O grande homem é silenciosamente bom...
É genial - mas não exibe génio...
É poderoso - mas não ostenta poder...
Socorre a todos - sem precipitação...
É puro - mas não vocifera contra os impuros...
Adora o que é sagrado - mas sem fanatismo...
Carrega fardos pesados - com leveza e sem gemido...
Domina - mas sem insolência...
É humilde - mas sem servilismo...
Fala a grandes distâncias - sem gritar...
Ama - sem se oferecer...
Faz bem a todos - antes que se perceba...
"Não quebra a cana fendida, nem apaga a mecha fumegante
- nem se ouve o seu
clamor nas ruas..."
Rasga caminhos novos - sem esmagar ninguém...
Abre largos espaços - sem arrombar portas...
Entra no coração humano - sem saber como...
Tudo isso faz o grande homem, porque é como o Sol - esse astro assaz poderoso para sustentar um sistema planetário, e assaz delicado para beijar uma pétala de flor.."

(Huberto Rohden)